É curioso como o futebol é um desporto no qual pouco ou nada se pode inventar.
Quando o Benfica foi campeão europeu arrasando o mítico Real Madrid, basicamente jogava em 4-2-4. Santana e Coluna faziam as despesas ao centro, tanto atacando como defendendo, à vez. Existe até uma célebre arrancada no final do jogo que é paradigmática para o que me interessa, na qual Santana depois de galgar dezenas e metros coma bola só não pede para ir dormir porque não pode. Curioso também como de designa um sistema, seja 3-5-2, 4-4-2, 4-3-3 ou outro, deixando de fora um elemento, o qual geralmente é a maior vítima da colocação dos 10 á sua frente.
Com Heleno Herrera á frente os ideólogos italianos repararam que com o simples recuo dos dois alas o sistema era mais eficaz do ponto de visto defensivo, e quem mais se lixou com isso foi Benfica. Outros como os brasileiros preferiram utilizar os extremos e o 4-3-3 foi moda nos anos 70, apesar das maluqueiras dos holandeses com o seu carrossel sem números, ou melhor, com números fixos.
Nos finais dos anos 70 eis que os carpinteiros entram em cena no futebol europeu, imitando os brasileiros, talvez com os Belgas à frente do martelo, e então foi ver o gago Festas, o sarrafeiro Rodolfo e o elegante Shéu à frente das defesas com o trabalho dos ditos carpinteiros: trincos, ou cabeças de área como já diziam os brasileiros.
De quando em vez, quando era preciso retrancas lá surgia o Eurico nessa posição, podendo dar felicidade a quem queria ter no centro da defesa os famoso Humberto Coelho e o tristemente falecido Carlos Alhinho.
E a coisa foi até surgir o tal Seven Goran Ericksson que alguns inocentes dizem estar a reformar-se esquecendo-se que alguém com mais idade para isso ostenta a taça de campeão europeu. No princípio Sven tentou o 4-4-2 típico nórdico colocando o Shéu à direita do João “luvas pretas” Alves. Barulho porco porque aparentemente não tinha lógica nenhuma, afinal o gago e o sarrafeiro continuava em su sítio. Sven recua um pouco e o 4-4-2 desaparece, sendo mais 4- -um passo 4-2., pois Shéu joga um passinho atrás do Alves. Mas um rapaz alto e loiro espreita: Glenn Stromberg. Entre o famoso Torbjorn Nilsson e Glenn Stromberg o último é escolhido. O passo à frente é dado. Com Carlos Manuel a seu lado, José Luís e Chalana nas alas eis o regresso do velho 4-4-2 ao Benfica. Não falo dos resultados pois o povo tem o google. O final da época é um pouco complicado. A derrota em Guimarães por 4-1 indica que algo no sistema é perigoso. Acaba a época de rastos. Com a saída de Sven o 4-4-2 como que sumiu até Toni pegar nele em 88 e levar a equipa à final da taça dos campeões, mas com tal passo a menos dado pelo excelente Elzo. A que custos. Jogando com as reservas a maioria da época e ficando a 15 pontos do fcp de Ivic e com a equipa a cair de podre. E o 4-4-2 desaparece até que regressa Ericksson. É pedido um central e compra-se o libero do Spartak de Moscovo que de central só a aldrabice de alguém. O nome: Vassili Kulkov. Sven sonha ainda um sistema a 3 com o russo lá metido, mas após a 1ª derrota do campeonato com o Boavista, Sven avança apesar das dúvidas em Londres, com o russo para o meio campo ladeando o sueco Jonas Thern. Este era o complemento perfeito. Também sabia defender e atacar, curiosamente atacava menos que o ex-libero russo. Tal qual Stromberg-Carlos Manuel…Thern-Kulkov…defender ou atacar…fazer um carrinho ou fazer um drible eram naturais…Ah, houve também um média ala que dava uma “ajudinha fundamental ao meio quando era necessário: Vítor Paneira. A época esteve perto da glória mas foi um fracasso muito por culpa das lesões, e porque no jogo fundamental em Nou Camp ou por lesão e ou castigo nem o russo nem o sueco jogaram. Não tenho a mínima duvida que com os dois em forma lá teriam os catalães de chorar baba e ranho. Curiosamente o fcp feito macaco de imitação e aproveitando estupidez alheia lançou o mesmo sistema com o Emerson a ladear o Kulkov aqui quase como camisa 10. Uma diferença. Jogava á sua frente o pequeno Rui Barros sempre operacional e como avançado o outro russo móvel: Yuran. Curioso não? E raramente se lesionavam os ordinários.
E este 4-4-2 de Quique Flores? Bem, a conversa é perceptível para quem conheceu os outros jogadores, para os outros uma grande seca. Ah…outra coisa. O Vítor Paneira faz comentários na TV e os outros não são titulares nas suas selecções como dantes.
Como disse alguém um dia “Seja qual for a variante, o 4x4x2 é sempre muito mais difícil de treinar e jogar do que qualquer 4x3x3. Exige mais mobilidade e cultura táctica aos jogadores para ocupar espaços a defender e atacar, a alargar e a fechar. Não joga assim, no futebol de top, quem quer, mas só quem pode (entenda-se qualidade de jogadores).
Nessas alturas, o 4x3x3 é uma casa táctica mais segura onde o onze se pode esconder, sem correr tantos riscos de derrapagens tácticas.
Para triunfar internacionalmente é, no entanto, obrigatório saber jogar em 4x4x2. É o controlo do meio-campo que está em causa.”
E se há coisa que não consigo ver de forma alguma para já. É o tal controle do meio campo.
Bola7 falou…