“por estes vos darei um Nuno fero, que fez ao Rei e ao Reino um tal serviço”.
Luis Vaz de Camões
Apesar de assistirmos a um Euro com alguma qualidade pouco tenho escrito sobre o mesmo porque há momentos que não vale a pena “perder” muito tempo, a escrever sobre certos assuntos com a sensação que poucos nos entendem.
O futebol dito moderno é um pouco estranho para mim, não porque teve a nível táctico alguma espécie de evolução, mas porque vive de muitos expedientes que ao analista do jogo puro como eu, não fazem, como diz a miudagem,”a minha praia”.
Escrevo hoje, antes do jogo contra a Espanha, de forma a não haver o tradicional…”ah agora é fácil falar”, porque a analise critica é um acto profano em Portugal, país de gente boa mas também de muita gente que se aninha perante os poderes instituídos, e cujo culto da “ovelhice” faz lei.
Quando Paulo Bento substituiu Queiroz fiquei feliz, porque sempre tive a impressão que este era um homem de balneário, conhecedor íntimo de tudo o que flúi lá dentro.
Os resultados mostraram a razão da escolha mas não gostei do seu compromisso com certos poderes instituídos, mormente certo clube e empresário, o que permitiu a convocatória de alguns jogadores apenas para servirem como tábua de salvação de carreiras suspeitas.
A forma como não conseguimos a qualificação directa para o Euro desiludiu-me imenso, principalmente a incapacidade de Paulo Bento de gerir os egos dos jogadores que nos últimos jogos que tiveram uma altitude lamentável em campo. Salvou-se o desespero feito atitude e qualidade no play off.
No arranque do Euro avisei que o sistema de jogo, o estafado 4-3-3 que muitos dizem ser o melhor sistema do mundo mas que quase todos abandonaram, que foi implementado por Queiroz desde os juniores, teria muitas dificuldades em funcionar, porque no fundo é um 4-5-1, e para isso precisa de ter…2 Nanis nas alas…com Ronaldo é impossível.
Viu-se tal facto em dois jogos de forma diversa. Num primeiro momento com a Alemanha, Ronaldo a fazer a sua “obrigação” recuando a apoiar o lateral Coentrão, perdendo-se o fantástico Ronaldo de ataque, porque se alguém quer que ele marque golos não fique à espera que pegue na bola desde a saída da grande área e a leve até à outra grande área e marque golos. Isso era para o Di Stefano em ambientes mais abertos.
Num segundo momento, com Ronaldo escusando-se a recuar e Paulo Bento alegremente assistindo à debacle do seu corredor esquerdo, onde os dinamarqueses passeavam felizes da vida a alta velocidade em auto-estrada sem controlo.
E aqui Paulo Bento mostra que é teimoso mas não burro. Faz a reorganização que é a chave do aparente sucesso desta equipa, para surpresa de muitos, a começar por mim, que não o julgava capaz de tal feito, nem ele, nem a toda a equipa. Bento percebe e aceita que Ronaldo só serve os interesses da equipa se o deixar à vontade na frente, sem os nós que lhe tolhem o génio, e para isso pede aos seus médios centro que o “sustentem” um pouco como sempre se fez com as grande as figuras do passado, desde Maradona que em 86 só soltou o seu génio quando Billardo ordenou que Enrique, Burruchaga, Baptista e Giusti trabalhassem para ele. Já o genial Cruijf só funcionava em pleno quando nas usas costas se encontrava o patrão Neskeens.
Com Moutinho e Veloso, conforme as circunstancias a protegerem o flanco esquerdo, alguém pagou “o pato”, como dizem os brasucas…Nani.
Como não há sistemas perfeitos alguém tem sempre de se sacrificar para permitir que outros apareçam, e Nani começa a pagar fisicamente o esforço tremendo que tem feito ao correr o flanco direito todo, e isso nota-se na zona de finalização onde a sua capacidade de entregar a bolinha redondinha para os avançados tem perdido qualidade.
Que fazer hoje? Simples. Aproveitar a vantagem física, que ela existe na realidade, porque também é mental. Física porque os 2 dias a mais de descanso permitem, julgo eu, aplicar um pressing a todo o terreno e durante mais tempo que o normal nesta altura do campeonato. Mental porque os espanhóis já ganharam tudo e vão ter de se moralizar muito perante gente que quer fazer história. Para mim está aqui a diferença que pode dar o triunfo a qualquer das equipas. Quem tem mais vontade de ganhar. Vontade não chega, porque por exemplo sobra qualidade aos espanhóis. É verdade.
Mas eu já disse e repito…observem o padrão do futebol europeu este ano. Geralmente não ganharam os potencialmente mais capazes, mas aqueles que tiveram mais vontade.
Espero arte e coragem da nossa equipa, e que saibam honrar a pátria, lembrando-se daqueles que em situações bem mais complicadas perante a gente vinda de Castela souberam triunfar nem que não fosse à padeirada.
Aconteça o que acontecer…viva Portugal de D. Nun´Alvares Pereira!
Bola7 falou…