Repito o teor de um post recente, e alerto para a existência de alguns sinais que causam preocupação. É um facto que num derby disputado fora de casa, empatar acaba sempre por ser um mal menor, sobretudo quando o Benfica desse modo tirou definitivamente um concorrente da corrida pelo título final e que se mantém à frente do seu principal adversário. Mas sejamos francos, o jogo de sábado podia e devia ter sido assumido de outra forma. O nosso adversário de sábado voltou a mostrar a sua mediocridade e o porquê de estar a fazer uma época paupérrima.
Compreendo que a meio da 2ª parte, o Jorge Jesus se tenha preocupado mais em não perder do que em ganhar. Já dizia a velha raposa, Trapattoni, que quando não se pode ganhar, deve-se evitar perder. E compreendi porque o jogo estava perigoso – o Sporting nada fazia, mas sentia-se que o jogo partido como estava, podia perfeitamente resultar numa falha nossa que conduzisse a um golo sofrido. Mas o que me preocupou foi a incapacidade (ou falta de vontade, por estratégia) de segurar o jogo, e de manter a equipa coesa de início a fim. Fizemos uma boa 2ª parte, e claramente fomos a equipa mais perigosa, que mais vez se acercou da baliza contrária. A haver um vencedor seria o Benfica…mas…
Mas neste jogo vi os sinais para os quais alertei quando Jesus assinou, e não me sentiria bem comigo mesmo se não alertasse nesta altura em que eles são ainda pouco nítidos e terão ainda poucas consequências no nosso futebol. Uma falha de Jesus nos clubes por onde passou sempre foi a gestão do esforço do plantel. A meu ver, a falta de coesão do Benfica no derby, desconjuntando-se muitas vezes entre o ataque e a defesa, teve a ver com o momento físico e psicológico de alguns jogadores. Por bem preparados fisicamente que estejam, nem todos os jogadores conseguem aguentar 90 minutos 3 vezes por semana, quer pelo seu estilo de jogo particular, quer pela sua fisionomia.
Dou o exemplo que me parece mais evidente nesta altura – Di Maria. Tem feito uma época muito boa, por muito que os seus detractores digam o contrário. Tem sido um dos motores do exuberante Benfica que temos visto, jogando sempre de prego a fundo do início ao fim das partidas, e assumindo sempre os riscos no um para um, chamando a si quase sempre a responsabilidade de ser o principal desequilibrador da equipa. Tem sido um jogador que tem jogado os 90 minutos de todos os jogos, quer no Benfica quer na selecção argentina. E o resultado começa a estar à vista – tem-se mostrado cansado, sem o discernimento que vinha exibindo. Um dos aspectos que mais se tinha de elogiar no jogador, era a sua abnegação a ajudar na defesa, correndo como um louco para ajudar o lateral-esquerdo. Nesta fase da época, é ver o lateral-esquerdo sempre sozinho, com o Di Maria a chegar sempre muito depois, e a ser batido em velocidade mais vezes no processo defensivo. É um sintoma claro de cansaço acumulado, que rapidamente se pode transformar (se é que não se transformou já) em cansaço psicológico. Obviamente que as más exibições já começaram a aparecer, e vão continuar a aparecer se nada for feito.
Também Ramires passa pelo mesmo. Ontem fez uma exibição melhor do que as que tem protagonizado, mas o facto é que já antes da lesão contraída em Goodison Park, e há uma semana contra o Guimarães, realizou exibições menos fulgurantes, com especial incidência nos espaços que deixou livres em terrenos defensivos para o adversário explorar. Novo sinal de alerta…!
Não tanto no aspecto físico, mas no aspecto da sua forma, igual situação se passa com Aimar. Tem sido o único jogador do plantel com gestão do seu esforço, pelo que fisicamente acho que não se lhe pode apontar nada, como aliás é evidente pela sua boa disponibilidade física em campo, nunca se resguardando em acções defensivas, dando tudo o que tem. Mas está profundamente desinspirado, e tem sido mais uma atrapalhação para a equipa do que uma chave para abrir as defesas contrárias. Urge gerir o seu momento de forma, e quiçá resguardá-lo no banco para entrar em alguns jogos a partir do banco, uma situação habitualmente mais confortável para fazer a diferença. Porque, novamente, insistindo na sua má forma em todos os jogos, acabará por desmotivar em primeiro lugar o próprio jogador, que pode começar a sentir que não consegue dar à equipa aquilo que a equipa espera dele.
Ainda para mais, o Benfica tem um plantel que permite gerir bastante bem este aspecto. Não é recomendável que se façam poupanças simultâneas de vários elementos chave, mas um deles pelo menos pode ir rodando, que dessa forma o Benfica não se ressentirá muito, tenho a certeza. E há jogos e jogos, há jogos claramente mais indicados para o fazer. Jogadores como Urreta, Felipe Menezes, Coentrão ou Amorim, só para citar alguns, podem resolver o problema do esforço dos elementos mais influentes da equipa (os 4 do meio campo), que são também os que pelas especificidades do seu trabalho em campo são os que estão mais sujeitos ao desgaste físico e psicológico. Se não começar a ser feita uma gestão dos momentos de forma dos jogadores mais importantes, prevejo tempestades, que já se perfilam no horizonte.
Neste jogo com o Sporting, que podíamos e devíamos ter assumido de outra forma, não faltaram sinais. E se calhar face a esses sinais, apostar mais no empate do que na vitória terá sido a opção certa – e por aqui alerto que a existência destes sinais pode ter consequências desastrosas em momentos mais decisivos, por decapitar eventuais ambições e exigências a assumir por nós. Vejam as acções do Di Maria, um dos grandes responsáveis por o Benfica ter aparecido tão desconexo entre a defesa e o ataque, razão pela qual o jogo foi tão partido e tão dado a surpresas. Vejam como o Saviola fez muito mais vezes de 10 do que de 2º avançado, devido à total ausência do Aimar. Cardozo perdeu imenso com isso, sempre sozinho. E vejam já agora como a equipa ficou mais sólida quando Amorim entrou para o meio campo, provando que mais vale ter um elemento de perfeita saúde física e psicológica em campo, do que um eventual génio criativo como o Aimar em sub rendimento. É a prova de que a gestão do esforço dos jogadores se exige e é a única forma do Benfica enfrentar uma época inteira sem quebras na sua ambição.
Há outras notas a destacar. Não se pode defender os cantos com 11 jogadores dentro da área. Hão-de me explicar qual a diferença de defender com 10 ou com 11, sobretudo quando um dos 11 é o “gigante” Saviola. Aquele lance do Miguel Veloso em que o Quim fez a defesa da sua carreira, resulta desta estupidez que já tínhamos visto no ano passado com o Quique. Nem temos qualquer vantagem a defender com 11, como ainda por cima permitimos que o adversário fique liberto fora da área para experimentar fazer o que Veloso fez. E quanto mais gente pusermos dentro da área, mais gente o adversário vai mobilizar para dentro da nossa área. Defensivamente, parece-me um tremendo tiro no pé esta estratégia, e ontem não fosse um momento de grande inspiração do Quim, e tínhamos ido de vela. Isto tem de ser mudado, senão é estarmos a expor-nos demasiado.
A lesão do Sidnei vem provar a necessidade do Benfica manter nos seus quadros os quatro belíssimos centrais que tem, e descartar em definitivo o empréstimo do Miguel Vitor a um clube qualquer. Um central que se estreou em San Siro da forma como ele se estreou aos 17 anos, não precisa de rodar para evoluir. Aprende muito mais treinando com jogadores como Luisão, do que indo fazer parelha com um qualquer Edcarlos numa equipa qualquer da Premier League. E assim quando precisamos de alguém para substituir um lesionado, podemos por em campo um jogador muito bom como o Miguel, e não um estróina qualquer sem qualidade. Reparem que sábado o Benfica ficou sem Sidnei a 15/20 minutos do fim. Se tem entrado um jogador da estirpe do Edcarlos… era tempo mais que suficiente para haver borrada. Assim entrou o Miguel Vitor, que limpou com toda a facilidade os lances em que foi chamado a intervir. É a diferença, percebam isto meus amigos!
Resumindo e concluindo, sem prejuízo do bom trabalho que tem sido feito, há alguns sinais no ar que provam que mesmo com um bom treinador e com bons jogadores, a coisa pode correr mal. Portanto está na altura, mais do que nunca, de começar a trabalhar no sentido de evitar que os sinais virem sintomas, e que pequenas oscilações de rendimento se transformem em preocupantes eclipses exibicionais. Cuidado com isso…”
Traimaniac falou…