Perguntam-me como pode a batota ser tão evidente no futebol português e a justiça não conseguir actuar, como se tal não fosse apenas mais um exemplo da inépcia da mesma em relação à grande corrupção na sociedade portuguesa.
Desde os tempos ancestrais que o cidadão anónimo conviveu de par em par com a despudorada noção que certos tipos de pessoas são inatacáveis, e como tal pouco há a fazer senão resignar-nos à triste sorte.
Desde que o jovem rei D. Sebastião desapareceu em Marrocos vitima de sonhos juvenis de grandezas memoráveis, que sonhamos todos com o seu regresso numa manhã de nevoeiro e com ele a resolução de todos os nossos problemas.
Num pais mergulhado no cinzentíssimo do “pobrezinho mas honrado”, um grupo de homens transpôs a fronteira da qualidade e valor, e em plena década de 60 do século passado, firmemente apoiado num cada vez maior número de indefectíveis apoiantes, ganhou a Europa com um conjunto de jogadores de dimensão internacional. Ao cumprir esse desiderato considerado impossível para o pobre lusitano, o Benfica conquistou também as rédeas do futebol nacional. É preciso notar que só em finais dessa década é que o Benfica conseguiu amealhar mais triunfos que o seu, então, eterno rival, o Sporting Clube de Portugal, o que contraria o triste argumento que o Benfica foi o clube do regime, que começou com ascensão no ano de 1932.
Alicerçado em homens de grande estirpe, que souberam alargar o clube além do futebol, sendo a maior referencia desportiva nacional, conseguiram também o respeito de todos, adversários internos e externos, sendo o grande embaixador da nação lusa além fronteiras.
Mas com a chegada da tão ambicionada liberdade politica em Portugal, em 1974, outra gente que recolhida no escuro das lamentações, alimentava-se do ódio ao centralismo político, económico e cultural, que se concentrava em Lisboa, deu finalmente a cara.
O poder económico destruiu-se a sul, transferindo-se para norte. E é aqui que surge uma série de indivíduos de carácter duvidoso mas de esperteza notável. Gente ligada ao clube de futebol mais poderoso do norte, mas que vegetava no seu histórico provincianismo. Percebendo que para unir as suas gentes necessitava de criar um inimigo externo, encetaram pacientemente mas resolutamente uma campanha com o fim de derrubar o Benfica do seu pedestal, fosse de que forma fosse.
Agindo com a velha estratégia do “dividir para reinar”, indivíduos com José Maria Pedroto, Pinto da Costa e Adriano Pinto entre outros, foram minando a salutar rivalidade entre o Benfica e o Sporting, ora aliando-se a um ora aliando-se a outro conforme o momento e conveniências, ao mesmo tempo que aglutinavam em seu redor fervorosos adeptos, cegos pelos triunfos que surgem após 19 anos a penar.
Na altura a estrutura principal do futebol português era baseada em associações regionais, sendo que a mais forte era a Associação de Futebol do Porto, de Adriano Pinto. Escolhendo sempre quem comandava a estrutura organizativa da arbitragem, minaram-na com gente da sua inteira confiança. Quem domina os ares domina o desenrolar da guerra, dizia Churchill. Quem domina o Conselho de Arbitragem domina o futebol, assim pensaram Pinto da Costa e seus aliados.
Destruindo os acordos de cavalheiros que faziam com que o futebol nacional tivesse estabilidade que permitia um certo desafogo financeiro, mas mais que isso, a alternância de vencedores, começa o fcp a ganhar embalagem para o caos que se seguiria.
Os escândalos surgem com a complacência dos órgãos da federação. Com a saída de João Rocha, o visionário presidente do SCP, o 1º a perceber a natureza das intenções de Pinto da Costa e seus aliados, o SCP capitula.
O Benfica quando finalmente percebe o pântano que se transformou o futebol português tenta a todo o transe recuperar o tempo perdido, investindo milhões em jogadores enquanto o FCP investe milhares em árbitros, conselheiros de Órgãos de Justiça, e em outros órgãos de poder, inclusive políticos.
E cria-se o ciclo que tem imperado no futebol português: o FCP ganha títulos; com eles participações na Champions; junta fortunas colossais nas participações e vendas de jogadores; compra melhores jogadores; ganha títulos; e o ciclo não se interrompe.
Para manter este esquema juízes civis, advogados e outros, juntam-se ao leque de gente que colaborando no esquema, recebem benesses do fcp. São viagens pagas no estrangeiro. Colocações dessas pessoas ou familiares mais próximos em lugares de destaque na vida publica. Um sem numero de favores que se pagam mutuamente.
Sei bem que não existem inocentes em todo o lado. No Benfica existe quem gostaria de responder na mesma moeda, mas a esmagadora maioria dos seus adeptos, fiéis aos princípios de cavalheirismo de Cosme Damião, figura mítica do clube, recusa tal caminho.
Porque então os adeptos do FCP não o fazem também? Porque não têm a mesma base “ideológica” dos adeptos encarnados. Estiveram demasiado tempo sem ganharem nada, e agora que sentiram o doce travo do triunfo, não o querem deixar o sentir. Para eles futebol é um jogo, e a batota faz parte do jogo. Não importa como se ganha, pois o importante é mesmo ganhar. O ódio ao Benfica também os motiva imenso, muito por despeito: eles não conseguem perceber como e porque apesar dos falhanços dos últimos anos, o clube de Eusébio, Coluna, Simões, continua a ter cada dia mais adepto. Que apesar de todos os seus triunfos não conseguem o respeito da maioria dos adeptos como o conseguiu desde sempre o grande Benfica. Secundados pela propaganda fecham os olhos ao óbvio, provado em escutas telefónicas e relatos públicos, que o seu clube conquista inúmeros títulos baseados na batota. É o delírio militante que é transversal á sociedade portuguesa.
Com a justiça civil num caos por culpa de legisladores de uma imbecilidade atroz, que permite que a batota exercida pelos grandes interesses não sejam punidos justamente, a vergonha desportiva grassa de uma forma descarada, pois os actores desportivos percebem que nada lhes pode suceder, pois nem a própria UEFA, refém de certos interesses inconfessáveis, é capaz de cumprir com o seu descer: punir os prevaricadores, e neste caso, o Futebol Clube do Porto.
Resta ao Sport Lisboa e Benfica, com a ajuda dos seus fieis adeptos lutar com toda a força dos seus argumentos desportivos, contra este estado de coisas, na eterna esperança que numa manhã de nevoeiro um qualquer justiceiro cumpra o desígnio de El-rei D. Sebastião.
http://www.youtube.com/watch?v=VqIlD2gtYaQ
(é a famosa reportagem O Bom, O Mau e o Vilão, traduzida em Inglês)
http://www.youtube.com/watch?v=Po_ri7e9sLo
(versão Francesa!)
Notlim falou…