Montanha russa de emoções!
Sempre gostei da montanha russa desde que em pequenino andei numa em Lourenço Marques. Aquela sensação que vamos cair no vazio, com o estômago a dar um nó é bem masoquista mas a adrenalina sabe bem.
O jogo de ontem não teve essas emoções fortes, apesar dos penaltys falhados, porque o Benfica deu sempre a sensação que nunca deixaria de ganhar o jogo a um Rio Ave muito medíocre e que infelizmente vaticino um triste fim, caso não mude radicalmente os status do seu futebol.
A montanha russa de emoções é devida à sensação transmitida pelo jogo ao vivo e a cores, e depois aos comentários de quem viu na TV ou mesmo por analistas radiofónicos.
Tudo começou com a surpresa da romaria encarnada rumo aos portões do estádio. Surpresa por causa do o jogo realizar-se a meio da semana, com frio intenso e a crise financeira que se sente principalmente no final do mês. Mas ensinar a um miúdo o que é alma encarnada é missão de qualquer pai que se preze, e imensos miúdos acompanhavam os progenitores com aquele misto de receio e ansiedade de ver as estrelas do firmamento encarnado.
Tive sorte ao encontrar 3 excelentes lugares mesmo ao centro, para mim e meus dois companheiros de aventura. Tanta gente e no meio algumas caras que já não via há muito, e para minha surpresa com cachecóis benfiquistas…eu nem lhes conhecia essa faceta.
Não há surpresas na equipa e o jogo começa como tempo…frio, muito frio. O Benfica deixa o Rio Ave apresentar-se e este não se faz rogado.
O primeiro a surgir bem interventivo é o Sr. Árbitro, que começa a irritar os adeptos. Poucos minutos após o início, já gente colérica ameaça cometer algum desatino se o homem do apito não arrepiar caminho, levando ao riso geral do pessoal…”Está vestido de preto, o animal; deve ter morrido algum familiar”…diz alguém…à falta de bom futebol, ao menos a boa disposição.
Em jogada que parece repetir-se nos últimos tempos, a bola é metida para a zona entre David Luiz e Fábio Coentrão e este “faz” penalty. Não sou hipócrita, e sendo corroborado por todos, disse ser penalty sem a menor duvida. O movimento do braço de Coentrão é nítido, e no estádio não pairou a mínima duvida. Na TV a conversa é outra. Imagino um ecrã a transmitir o jogo em directo e com repetições, ontem. Por momentos compreendi o porque dos árbitros falharem tanto. Nesta arte, quem não tem vocação é melhor ficar por casa, a menos que a causa tenha outros “interesses”.
Excelente defesa de Júlio César, que de forma imperial impediu o golo madrugador do Rio Ave. Bom mote para o Benfica acordar para a vida, e fazer-se à estrada. Mas não, tudo muito mastigado. Apenas Salvio acelera e bem pela direita. Mesmo quando o drible ou o cruzamento não lhe sai bem, nota-se que tem alma e talento, para pegar na bola e arriscar.
Estádio cheio de benfiquistas mas ouve-se a meia dúzia de adeptos, literalmente, da claque do Rio Ave, que na sua bancada, sobrevive paredes-meias com os imensos benfiquistas que lá estão também. Muitos cartões de sócios do Rio Ave serviram para fazer entrar adeptos do clube da Luz, o que originou algumas escaramuças naquela bancada. Ao menos deve ter dado para aquecer o ambiente gélido dos arcos. Dá que pensar como pode o clube emblema de Vila do Conde sobreviver com tão poucos adeptos, mas isso é conversa para outras calendas. O certo é que o silêncio imperava, que dava para ouvir o Mário Felgueiras a berrar ordens na sua grande-área, pressagiando o que se seguia.
Penaltys e mais penaltys. Ninguém sabia dizer se realmente tinham sido cometidos, mas tudo achou graça ao facto de numa época em que são um petisco quase inexistente, surgirem de prato cheio e a preço reduzido…no campeonato veremos se foi tudo servido e comido.
Perto do intervalo vimos o melhor Benfica a justificar mais que o golo canhão de um apático Cardozo, alvo maior da ira dos adeptos.
Após um intervalo em que se recordou o belo passado, deu para ver de perto o flanco esquerdo do Benfica, mais pertinho de mim. Se o flanco direito mostrou um Maxi Pereira estranhamento débil perante Yazalde, o flanco esquerdo mostrou-se mais assertivo, onde o Coentrão, eleito o 3º melhor jogador da história do Rio Ave, a conseguir dominar um chatinho Gama. E reparei num jogador que me tem deixado muitas duvidas…o Gaitan. Este é um pouco a imagem do Benfica: equipa capaz de momentos de grande brilho, como o foram alguns minutos que antecederam a saída do Aimar, e uma mediocridade, fruto da sobrancearia como a equipa no geral aborda certos aspectos do jogo.
Gaitan tem alguns pormenores técnicos mesmo à minha frente que levaram os espectadores a pontuarem com um “ohhhhhh”, e momentos de absoluta indiferença perante o jogo que levaram aos mesmos vociferarem furiosamente.
Quando Aimar pegou na bola e variou o jogo, não insistindo em jogar apenas com o “amigo” Saviola, o jogo teve uma beleza plástica interessante. Mas a forma como a equipa não sabe literalmente o que fazer quando penetra na área adversária, com uma falta de objectividade ridícula, e finalizando as jogadas com a convicção de uma equipa de distritais, leva ao desespero o adepto mais convicto. E olhem que nem falo dos penaltys falhados, pois os exemplos foram por demais.
Depois foi notória distância que existe entre sectores, deveras estranha. Entre os defensores e o médio defensivo e os restantes jogadores algumas vezes cavava-se um espaço enorme. Existe um lance que mostra essa deficiência, e também a falta de concentração de muitos jogadores durante o jogo. Coentrão intercepta no limite uma boa, à entrada do meio campo, e esta é jogada para essa zona neutra do campo, onde é esquecida pelos restantes jogadores que se encontravam entregues a um momento único de letargia colectiva, sendo rechaçada por um defensor contrário, para fúria de Coentrão.
No final lá surgiu o golo do descanso, pelo inevitável Cardozo. Estranho jogador este, que é festejado pelos adeptos como um herói, em dois momentos, e é apelidado de marreta pelos mesmos na esmagadora maioria do tempo. Frango dos diabos, dizem todos. Na TV revela-se a verdade…a bola foi desviada por um defesa de cabeça o invalidou a reacção do guarda-redes vilacondense.
E lá terminou este estranho jogo, visto e vivido de formas diversas, conforme o ângulo de observação. Ainda há bocado no café conversava com gente que lá tinha estado, que se manifestava surpreso com as crónicas do jogo. E então quando lêem João Eusébio dizer que o jogo foi de uma intensidade ao nível dos melhores no estrangeiro houve quem sugerisse que existem mesmo universos paralelos e que nem toda a gente ontem esteve no mesmo.
E lá foi tudo na maior descontracção rumo a casa, reclamando dos acesos ao estádio, e da mediocridade do futebol exibido…bem, nem todos. Nem na saída do David Luiz houve unanimidade. Os adeptos agradeceram e desejou boa sorte, mas de imediato alguem disse alto: “Ele já não vai. Acabei de ouvir na TSF”.
Como diria o meu falecido avô paterno: “Se percebo, sebo…”
Notlim falou…
Exactamente o jogo que eu vi.
Muitas promessas, pouca realização. Alguns bons pormenores, algum bom entendimento e algumas boas jogadas, intercaladas com o frio que ficou a ganhar…de goleada.
De resto, a confirmação que tivessem todos metade da garra e entrega de Coentrão e teriamos ali 3 ou 4 foras-de-serie. E a falta que Javi faz, Airton onde está até faz bem, mas raramente está no sitio correcto…a rever numa próxima oportunidade.
Mas se calhar o erro é meu, porque os comentários e análises que ouvi/li depois não eram do jogo que presenciei. Eu provavelmente estaria ocupado a esconder-me do frio. Ou a realização televisiva foi superior à da equipa.
Abraço
É, na TV as coisas saem mais bonitas. Mas eu que vi na TV tb tenho a vossa opinião…enfim…
Grande cronica, amigo Notlim !
Grande estilo.
E clarividência !
Afinal vimos o mesmo jogo, tu no estadio e eu aqui, no monitor !
Houve momentos em que a nao atitude da “equipa” tirou-me do sério !
Que passividade, que letargia !
E so a ganhar pela margem minima !
Como resumiste bem :
“o Gaitan. Este é um pouco a imagem do Benfica: equipa capaz de momentos de grande brilho, como o foram alguns minutos que antecederam a saída do Aimar, e uma mediocridade, fruto da sobrancearia como a equipa no geral aborda certos aspectos do jogo.”
Aquele abraço.
L.
Pois acredita que foi uma crónica que me custou a escrever. Até parei de escrever a meio para ir ao café conversar com gente que foi ver o jogo e que tem a mesma opinião. É que ontem ao ler, e mesmo hoje tambem, algumas crónicas fiquei com imensas duvidas do que vi ontem. Sinceramente nunca vi semelhante descrepancia entre o que vi, o que ouvi das pessoas, do que senti no estádio, e do que tenho lido em muitos lados. Sinceramente não compreendo.
se eu te dissesse que o unico golo que festejei …
afinal a bola embarrou num defesa…..
TUDO DITO.
PS : por este andar, ainda nao é este ano que o Benfica vem a Paris !
A Paris?…fazer o quê?