2ª parte
Enquanto no campeonato nacional a coisa corria bem, eis que chega a taça UEFA. Jogo na Luz como Bétis do famoso jogador espanhol, Gordillo, que mais tarde jogou no Real Madrid. 1-1 Quase até ao final quando Eriksson lança o jovem Padinha. Em boa hora o fez porque quase a terminar o jogo, ele mesmo marca o tento da vitória. Na 2ª mão em Sevilha, Eriksson garantiu que iam jogar para ganhar. Começou mal o jogo. Ouvindo o relato no quarto escuro, sofri com o golo espanhol. Ao intervalo enquanto Eriksson fazia os jogadores acreditarem neles mesmo, eu acendia uma velinha junto à foto da equipa, numa mistura profana/religiosa que hoje me parece ridícula, mas que naquela altura com 16 anos me parecia natural. Uma coisa é certa. Como soube bem ouvir os golos de Carlos Manuel e Nené. Vitória clara da melhor equipa, diriam depois os espanhóis. Depois com o Lokeren calmos 2-0 na Luz, com o excelente Filipovic a começar a fazer mossa. Na escola o meu professor de Religião e Moral, portista danado, perguntou-me no meio de todos, prognostico para o resultado do jogo da 2ª mão. Sem hesitar disse 2-0. Rádio colado ao ouvido que isto das Tvs dar até os treinos era previsão de ficção científica. Mestre Wilson Brasil diria pouco antes de começar o jogo que o Benfica ganharia nas calmas. Assim foi, com Filipovic a mostrar-se ao mundo muitos anos depois de ser apontado como uma grande promessa do futebol mundial.
Com o campeonato controlado o sonho europeu começou a alimentar muitas almas. O sorteio foi bom. O Zurique da Suíça. O pensamento era sempre o mesmo. Empate fora para ganharmos em casa. Mas Eriksson e seus jogadores não pensavam assim como constatei nesse jogo. O jogo começou a correr mal com o golo suíço. Dias antes Shéu que se encontrava lesionado, argumentava a Orlando Dias Agudo da RTP que não fazia falta à equipa. Homem modesto. Fazia sim senhor. O seu substituto, o Alberto Bastos Lopes, irmão do stopper António, não tinha nem de perto nem de longe a sua categoria. Ericksson força o ataque com o Diamantino e foi um massacre rumo aos buracos do queijo suíço. Mas a bola não queria entrar. Canto de Carlos Manuel, Humberto desvia ao 1º poste e numa fracção de segundo vejo Nené a atirar ao poste. Ainda estava a meter a mão à cabeça, e nem tive tempo para me lamentar, pois já a bola estava dentro da baliza devido à recarga eficaz do Filipovic. Bola ao centro e o Benfica retoma o massacre mas sem conseguir mais algum golo. E até hoje ainda recordo com espanto a cara de irritação, ódio mesmo, dos jogadores do Benfica, quando saíam do campo. O empate para eles tinha sido pior que uma derrota. Afinal eles queriam ganhar os jogos todos. Que lição para mim que me contentava com o empate. Na luz só sossegaram quando golearam por 4-0. A vingança serve-se com a precisão de um relógio Suíço. O verdadeiro Benfica tinha regressado.
Curiosamente ou não, fruto do acaso a RTP resolveu transmitir também o jogo do Roma, nessa eliminatória. Como ver jogos na TV era coisa rara, não perdi a oportunidade de ver uma grande equipa de futebol comandada por um grande mestre, o sueco Niels Liedholm. Uma constelação de estrelas comandadas por um génio – Falcão.
E eis que o sorteio dá AC Roma de Tancredi, Vierchowood, Di Bartolomei, Prohaska, Toninho Cerezzo, Falcão, Ancelotti, Bruno Conti e Pruzzo. Na escola todo o mundo vaticinou o fim da carreira encarnada. Engoli em seco e disse no dia do jogo que “veríamos”. Com receio, mas no fundo, havia qualquer coisa na equipa da Roma que não era perfeita.
Jogo ás 2 horas da tarde, 3 em Roma, pois o estádio não tinha iluminação suficiente para dar à noite, diziam. Foi sair da escola, ir para casa, tentar comer, mas era impossível. O estômago estava cheio de nós.
Estádio cheio, barulho infernal, e infernal começo do Benfica…infernal para a Roma. Filipovic marca um golo soberbo. O meio campo encarnado dá festival de bola. A marcação à zona do aprendiz Eriksson arrasa a do mestre Liedholm. No dia anterior este tinha dito com sobranceria que o seu compatriota era o melhor treinador sueco…Jovem. Na 2ª parte Filipovic amplia a marca. Que loucura. Nem acredito no que vejo. O magnífico Pietra mete mão à bola na área e faz penalty claro. Di Bartolomei fuzila como de costume e Bento nada pode fazer. Há que aguentar. E o lucutor diz que são duas as substituições do Benfica. E acrescenta incrédulo. Não vai meter o Alberto Bastos Lopes para defender. Vais meter o José Luís e o Diamantino. Grande Eriksson. Com estes 2 a saírem para o contra-ataque os defesas romanos têm de pensar duas vezes quando atacam. Sem sustos de maior o Benfica aguenta a última carga da Roma. Também, quem tem Veloso, Pietra, Humberto Coelho e Bastos Lopes na defesa tem de ter confiança. O Jogo acaba e a vontade de ir para a escola encontrar-me com certos amigos é tão grande que quase nem durmo. No dia seguinte os benfiquistas nem cabem na roupa de tão inchados. Na 2ª mão deu empate. Filipovic marcou e Falcão atrapalhou. Mas nada nos podia tirar das meias-finais. A Roma seria “apenas” campeã de Itália…
Notlim falou…