Um filme que não foi igual!

Vitória conquistada a ferros, sofrida como nunca, mas assim se faz os campeões.

Para tentar perceber alguns aspectos do jogo tenho que tentar meter-me na cabeça de Jorge Jesus para tentar compreender algumas coisas um pouco estranhas nas opções do homem. A começar pelo 11 inicial. Julgo que Jesus tenta rodar a equipa de forma a ter toda a gente contente com o rebuçado de jogar uma partida a titular de quando em vez, dando também um sinal que todos podem ter hipóteses. Prefiro pensar assim que na velha teoria que os técnicos lusos são supersticiosos por natureza e por isso gostam de inventar.

Sentado com cervejinha e os acepipes à antiga, que isto da pipocas é para a garotada cool, começo do jogo e logo de imediato Ramires deixa a bola sair pela lateral…”mau, que sinal negativo”…

Livre de Aimar…”estás só, marca”…e golo do Benfica.

A equipa começa a jogar bem…”se marcarmos mais um goleamos”.

Não marca porque os jogadores parecem querer entrar todos ao mesmo tempo na baliza junto com a bola. E o Leiria tenta ripostar…”bolas, se eles chegam à baliza ainda marcam”…

Futebol moderno em todo o seu esplendor – livre, desde que marcado após o meio campo é pontapé para a zona entre a marca de penalty e pequena área e fé em Deus – mexo-me da cadeira porque pressinto chatices…”que porra, foi de certeza auto golo”.

Algo me diz que já vi este filme. É igualzinho à maioria dos filmes actuais. Todos nós já sabemos quem é o vilão. E aqui percebe-se bem onde mora o perigo. Se sofremos mais um golo é a repetição de velhos filmes série B de segunda categoria. Será que o raio da equipa não consegue ganhar um jogo depois de uma queda andrade?

Ramires contorcesse com dores e parece arrumado. Mas lá se mantém em campo. Vamos para o intervalo com a noção que algo tem de mudar porque o Leiria parece ter as coisas dentro do controle possível.

Jorge Jesus tem uma vantagem em relação aos treinadores que têm passado pela luz…esteve a vida toda no outro lado da barricada. Ele sabe que existe um factor muito importante no jogo nacional…o aspecto psicológico, e o medo terrível que os técnicos e jogadores das equipas ditas pequenas têm dos grandes…quando estes mostram os dentes.

Assim se compreende as substituições feitas. Se Keirrison parece um jogador saído de uma versão mal editada do FM 2009, e a sua substituição absolutamente lógica face ao produzido, a saída do Ramires, condicionado pela pancada na 1ª parte já era tardia…mas substituído pelo Nuno Gomes é que não percebi…ou melhor vou tentar perceber….quando se pedia a arma secreta, Coentrão.

Há uns anos atrás um técnico holandês meio louco, de nome Co Adriaanse, conseguiu a dobradinha para o fcp. Nada de especial nos tempos que correm, se não fosse a forma como explanou em campo o seu sistema táctico. Ele conseguiu o sucesso com 3 defesas, 4 médios e 3 avançados, algo quase único no mundo da bola, nos “tempos modernos”. O segredo do seu sucesso não consistiu na qualidade do seu jogo mas sim num aspecto tão ou mais importante, o aspecto psicológico. O sistema de jogo atemorizava os adversários. Estes apesar do engodo de enfrentarem apenas os 3 defesas e o trinco, pensavam 1º que nas suas costas estariam demasiados jogadores em posição de trazer prejuízo à sua causa. E não atacavam perdendo os jogos muitas vezes pela diferença mínima.

As equipa que enfrentam o Benfica hoje, e mérito a Jorge Jesus que percebeu a grandeza do clube, têm temor de enfrentar o Benfica olhos nos olhos como faziam vergonhosamente no ano passado por exemplo, e mesmo perante a tentação de poderem enfrentar uma equipa do Benfica descompensada do ponto de vista defensivo, não arriscam a fazê-lo, tal o pavor de desguarnecer as suas costas.

Assim se compreende que o Benfica tenha jogado com defesa entregue a si, jogando bem adiantada no terreno e em linha, apenas com a protecção fantástica do gigante Javi Garcia, ontem, apenas, o melhor homem em campo. Uma chamada de atenção à forma excepcional de Luisão, que vive o seu melhor momento de sempre na luz, apesar do excessivo protagonismo do seu jovem parceiro do centro.

Porque tantos jogadores para o centro do terreno, Cardozo, Nuno Gomes, Saviola e ainda por cima com o Aimar em campo, sobrando apenas o Di Maria para as faixas? Penso que a ideia foi obrigar o Leiria a ir todo para o centro, deixando as faixas laterais para os laterais encarnados. Jorge Jesus apostou que Manuel Fernandes iria cair no engodo e fechar o centro, não fazendo o que qualquer outro técnico mais sagaz faria…lançar extremos para aproveitar as auto-estradas abertas pela subida dos tais laterais. Mas aqui estou a criticar o Manuel Fernandes e não sei se o devo fazer, pois como não conheço o plantel do Leiria não sei se tem extremos capazes. Jorge Jesus saberia? Vou confiar na capacidade de observação dos nossos observadores.

E assim acontece o tal lance entre o Nuno Gomes…fetiche do técnico?…e Aimar…”penalty!”…é um lance tão espalhafatoso que dá vontade de dizer ao defesa que se gosta tanto de acções dessas que vá para o circo…”golo”.

E depois finalmente vejo um Benfica com alma de campeão. Magnifica a forma como foram geridos os últimos minutos. Jesus joga de imediato com Amorim de forma a equilibrar a equipa, mostrando que ele próprio sabe que jogar daquela forma é um risco tremendo. A equipa mostra finalmente classe, carácter e frieza. Mas como de costume o raio do argumentista arranja um final com suspense…”e pronto, lá vem sofrimento com o livre a terminar…uff, acabou.”

Bem, o mais importante foi mesmo ganhar. Não fizemos um jogo brilhante, longe disso, acusando muito a pressão e o cansaço. Mas ganhamos, e nesta fase é o que mais interessa. Há que passar a pressão para os outros e só estando na frente se consegue. Eles que vivam o seus filmes e de preferência de terror e que as suas vitórias sejam apenas fruto de ficção cientifica ou pornografia barata.

Bola7 falou…