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Uma epoca gloriosa – 1ª parte!

1ª Parte

 

Para o bem ou para o mal sempre fui um pouco nostálgico. Ser nostálgico tem as suas virtudes mas também os seus defeitos. Às páginas tantas andamos sempre a pensar que tudo o que existia no passado era sempre melhor que no presente, e pior que isso vaticinamos sempre o pior para o futuro.

Mas julgo que na questão futebol, a nostalgia tem razão de ser. Quando penso no Benfica do passado, das grandes equipas e das grandes vitórias, é evidente que ela torna-se muito forte com naturalidade.

Tenho uma memória desportiva extraordinária, dizem os meus amigos, mas curiosamente quanto mais ela se aproxima do presente mais ténue ela fica.

E quando penso em grandes equipas do passado vem-me sempre à memória a época de 1982/1983. Por vários motivos, os desportivos e pessoais. Foi um ano fantástico em todos os aspectos. Vi o melhor Benfica da minha vida e também do ponto de vista pessoal foi um ano bom, apesar de alguns percalços. Vivi vitórias extraordinárias de um grande Benfica, tive a 1ª namorada e fui suspenso na escola secundária, num ano em que até tive muito boas notas escolares.

Lembro-me vagamente que a escolha do sueco Sven Göran Eriksson foi muito mal acolhida por muita gente. Afinal ele era pouco mais velho que alguns jogadores do Benfica. O “gringo” nem sabe falar português, diria um conhecido jornalista brasileiro. Por acaso tinha-me espantado com o feito dos suecos do Gotemburgo comandados por Ericksson, na época anterior na taça UEFA, quando aniquilaram sem dó nem piedade o famoso Hamburgo de Félix Magath. Ficou-me também na retina o chapéu falhado de forma inglória pelo camisa 7 sueco, um tal de Glenn Stromberg.

Era uma época diferente, na qual a informação desportiva resumia-se aos trissemanários desportivos, que surgiam na banca em dias desencontrados. Depois tínhamos os relatos nas rádios, ainda onda média, e na TV alguns resumos e um ou outro programa desportivo. Foi num desses, ao sábado à tarde que vi uma entrevista do treinador sueco. Ainda em inglês, dizia ele nas bancadas do estádio da luz, com o seu chapéu “Macieira”, que o Benfica tinha excelentes jogadores; que não precisava de fazer grandes contratações. Devo lembrar que o ano anterior tinha sido bastante fraco em resultados. Lajos Barotti já acusando o peso da idade não tinha conseguido repetir a época de sucesso anterior. Apesar de perder o campeonato mesmo na linha de chegada, tal deveu-se mais à loucura do técnico do SCP, Malcolm Allisson, muito dado ao scotch que ao mérito da equipa encarnada. Aliás foi nessa época que o presidente Fernando Martins teve a surpreendente ideia de encerrar a carreira do histórico Toni, fazendo-o técnico-adjunto do veterano Barotti, com o intuito de salvar alguma coisa.

Eriksson limpou o balneário, saneando-o dos brasileiros, uns de qualidade duvidosa como Paulo Campos, e outros que tinham falhado rotundamente como o famoso Jorge Gomes, formando um plantel curto, mas de gente capaz. A desconfiança inicial foi-se esbatendo quando se viram os resultados da pré-época, com vitórias robustas. Num jogo qualquer  na luz o Benfica goleu por 5. Um golo chamou-me a especial atenção. Carlos Manuel faz de conta que atira directo à baliza, levanta a bola por cima dos defesas contrários, estes ficam estáticos e surgem 3 jogadores sozinhos na cara do guarda-redes contrário. O inevitável Humberto Coelho fuzila com um cabeceamento eficaz, como era seu timbre. Mas o mais interessante foi mesmo uma notícia vinda de Toronto. O Benfica jogava um torneio qualquer, no qual se encontrava presente, julgo que o famoso Penarol. Talvez por atitude revanchista, ou simplesmente arrogância os uruguaios não saíam do campo não dando espaço nem tempo à equipa encarnada de se adaptar ao piso. Quando falo do revanchismo recordo que uns tempos antes, num jogo de apresentação do Benfica, com o Penarol, tudo acabou com uma valente cena de pancadaria entre os nossos e os sul-americanos, com a ajuda final dos adeptos. Tudo porque os uruguaios ficaram danados com uma entrada dura do Humberto sobre o seu guarda-redes Rodolfo Rodrigues que um dia mais tarde defendou a baliza do SCP. Premonição talvez? O certo é que os uruguaios cercaram o Humberto que teve de se defender à patada, até chegarem os reforços. Nesse dia viu-se que além de excelentes jogadores, muitos deles teriam feito carreira no boxe. Foi um escândalo dos diabos. Voltando a Toronto, Eriksson farto da situação pegou no saco de bolas e entrou no relvado perante irritação uruguaia. Vendo tal coisa, os jogadores encarnados sob o comando de Humberto Coelho, Alves, Pietra, Carlos Manuel, Bento, após a estupefacção inicial perante o acto que julgavam impossível do fleumático técnico nórdico, rapidamente entraram em campo para auxiliar o seu chefe, prontos para tudo. E foi ver os uruguaios saírem do relvado com o rabo entre as pernas. Os valentes jogadores encarnados olhavam com orgulho para o aparentemente calmo e dócil treinador sueco. Eriksson tinha ganho o grupo.

Pouco tempo depois após uma vitória na madeira por escassos 1-0, o então grande jornal A Bola escrevia em parangonas – “Vitória da classe”. Estava dado o mote para uma época fantástica…

Notlim falou…


7 Respostas to “Uma epoca gloriosa – 1ª parte!”


  1. 1 Tosta Mistica
    09/09/2009 às 12:56

    Não foi nesta época que o Benfica foi disputar a final da taça a casa dos porcalhões, que se recusaram a jogar no estádio de Oeiras, conforme deliberação da sua Assembleia Geral, ameaçando faltar ao jogo? E pumba 0-1 com golo do Carlos Manuel…

    Bem falar dos anos 80 é ficar já de lágrimas nos olhos!

    Ainda me lembro da indecisão entre faltar às aulas ou ver o Benfica a jogar…

    Não foi também neste ano que ganhamos no campo do Roma?

    Que saudades, senhor, que saudades…

    (PS: e não perdemos em Vila do Conde? ou foi mais à frente?)

  2. 2 tabakaebola
    09/09/2009 às 13:02

    calma calma…estragas o suspense?…eheheheh…sobre o Rio Ave a derrota foi na epoca anterior com golo do pires…no velho campo da avenida…

  3. 09/09/2009 às 15:48

    “E foi ver os uruguaios saírem do relvado com o rabo entre as pernas. Os valentes jogadores encarnados olhavam com orgulho para o aparentemente calmo e dócil treinador sueco. Eriksson tinha ganho o grupo.”

    São com pormenores assim que, sem dúvida, se conquista um grupo. O Eriksson foi um senhor no Benfica.

  4. 5 SirRik
    10/09/2009 às 08:38

    Só de ouvir falar fico com raiva de não ver o Benfica jogar assim…

  5. 7 Corrosivo
    10/09/2009 às 08:50

    Isto é que era Benfica


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